Creio que o casamento não deve ser uma decisão tomada por impulso. Deve-se fazer antes uma profunda reflexão do sentido de uma união como essa. Joseph Campbell, uma das maiores autoridades no campo da mitologia em nosso século, define da seguinte forma o casamento:
"O casamento é a união da díade separada. Originariamente, vocês eram um. Vocês agora são dois, no mundo, mas o casamento não é senão o reconhecimento da identidade espiritual. É diferente de um caso de amor, não tem nada a ver com isso. É outro plano mitológico de experiência. Quando pessoas se casam porque pensam que se trata de um caso amoroso duradouro, divorciam-se logo, porque todos os casos de amor terminam em decepção. Mas o matrimônio é o reconhecimento de uma identidade espiritual. Se levamos uma vida adequada, se a nossa mente manifesta as qualidades certas em relação à pessoa do sexo oposto, encontramos nossa contra-parte masculina ou feminina adequada. Mas se nos deixarmos distrair por certos interesses sensuais, iremos desposar a pessoa errada. Desposando a pessoa certa, reconstruímos a imagem do Deus encarnado, e isso é que é o casamento."
Segundo Campbell, o coração nos diz quem é a pessoa certa. "Há uma luz que cintila e algo em você lhe diz que é essa a pessoa certa".
Campbell prossegue: "Se o casamento não é de magna prioridade em suas vidas, vocês não estão casados. O casamento significa os dois que são um, os dois que se tornam uma só carne. Se o casamento dura o suficiente, e se você se amolda constantemente a ele, em vez de ceder a caprichos pessoais, você chega a se dar conta de que isso é verdade - os dois realmente são um. (...) Casamento é uma relação. Quando vocês se sacrificam no casamento, o sacrifício não é feito em nome de um ou de outro, mas em nome da unidade na relação. A imagem chinesa do Tao, com a treva e a luz interagindo, mostra a relação entre yang e yin, masculino e feminino, e é isso que vem a ser o casamento. É nisso que vocês se tornam quando casam. Você deixa de ser aquele um, solitário; sua identidade passa a estar na relação. O casamento não é um simples caso de amor, é uma provação, e a provação é o sacrifício do ego em benefício da relação por meio da qual dois se tornam um".
É preciso lembrar que "sacrificar" vem do latim, e significa "tornar sagrado"; não é, portanto, algo negativo.
Campbell explica melhor:
"(...) cada um cuida dos próprios interesses, mas acontece que esse um não é apenas você, é a díade reunida em um. Eis aí uma imagem genuinamente mitológica, significando o sacrifício de uma entidade visível em nome de um deus transcendente."
Na minha opinião, Campbell diz tudo. O casamento é uma união que transcende a paixão, o que ele chama de "caso de amor". É um compromisso que envolve entrega, sacrifício no sentido mais sublime, companheirismo, compreensão.